sexta-feira, 22 de agosto de 2008

DaS vAnTaGeNs De SeR bObO - ClArIcE LiSpEcToR


O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."


Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.


O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"


Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!


Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.


O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.


Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!


Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

"O bom humor é a mão de Deus sobre os ombros de um mundo triste." [Autor Desconhecido. Deve ser um bobo...]

domingo, 3 de agosto de 2008

Cuidado com o sino!

Amanhã é dia de "volta às aulas"! Acordar bem cedo e atravessar a Baía de Guanabara by BARCAS S/A, rumo ao meu campus que fica no Centro do Rio: IFCS/UFRJ. Não gosto da ponte Rio-Niterói! Na maioria das vezes que me deixei levar pelo "ônibus que me deixa em frente ao IFCS", me atrasei. Sabe aquela música do Seu Jorge?! "São Gonça"...

Pra mim, volta às aulas significa muito mais que rever os colegas de classe e ouvir [mais uma vez] os problemas enfrentados pela universidade pública [o REUNI é exemplo de um dos principais monstros a ser combatido, segundo os CAs de esquerda].

Acima de toda "rotina", como alguns podem pensar, voltar às aulas é conviver com pessoas que sonham, desejam, têm esperança, acreditam, militam...

Um prédio histórico no Largo de São Francisco, onde se reúnem três dos "cursos mais fechados ao evangelho" - afirmam aqueles que nunca investiram alguns minutos sequer num bate-papo sobre "assuntos espirituais". História, Filosofia e Ciências Sociais são os cursos ministrados pelo IFCS [Instituto de Filosofia e Ciências Sociais] - prédio localizado a alguns metros de uma Igreja Católica.

Tradicionalmente, de hora em hora, ouvem-se as batidas do sino da igreja. Acho interessante e até irônico, porque o sino acabou se tornando o relógio oficial de nossa instituição [laica]. Não sou sinólogo [palavra que acabo de criar para "especialista em sinos"...], mas existe uma espécie de intervalo pra que o sino bata tantas vezes quanto os ponteiros do relógio apontam as horas que se passaram. 12h - isso significa que os estudantes e demais pessoas próximas à igreja serão agraciados pelo "blooooommm..." durante doze vezes.

Desconsiderando a simbologia do sino [seu valor religioso], há pessoas que não gostam de seu "barulho" e outras que curtem essa tradição católica. Gostando ou não dos longos "blooommm...", o fato é que em algum momento o sino não será mais tocado. Nem seu eco será ouvido. Ainda que se faça "barulho", seu som não é duradouro/eterno. Sempre que ouço os sinos, imediatamente me lembro de I Coríntios 13 e reflito sobre como anda meu christian way of life...

De que adianta fazer tudo bonitinho, certinho, engomadinho... se minha prioridade não for o amor? Ainda que eu escreva um livro [ou blog] repleto de poesias, ainda que eu tenha "bíceps do Popeye" [pra conquistar a "Olívia"], ainda que eu atravesse o Atlântico nadando [pra "fazer Missões"], ainda que eu seja líder de ministério, ainda que eu pregue como ninguém, ainda que eu participe de inúmeros congressos de "despertamento espiritual", ainda que eu seja contra o REUNI, ainda que eu ajude um cego a atravessar a rua, ainda que seja o garoto que vive de bom-humor, ainda que dance no louvor, ainda que cante no coral da igreja, ainda que cure alguém, ainda que escreva isso tudo, ainda que... "se não tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine". [I Coríntios 13:1b]

De todos os sonhos, projetos, desejos... Quais são minhas reais intenções em minha vontade de "impactar o mundo" [ou a universidade]? O Evangelho é tão rico que vale pra todas as áreas de minha vida: sentimental, emocional, espiritual, estudantil, profissional, ministerial e outros "al". Se o amor não for prioridade, de nada adianta - assim como o sino, ainda que se faça "barulho", seu som não é duradouro/eterno. O amor é o que mais importa. O resto é resto, ou melhor, é sino ["blooommm..."].

"Três palavrinhas só, eu aprendi de cor: Deus é amor. Tra-la-la-la-la-la-la-la-la". [Uma canção para crianças. Só para crianças?]