quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Igreja evangélica tupiniquim: fé de uns fede um pouco…

fedor Quero blogar um pouco sobre Igreja e eleição. Adianto que este não será um post sobre calvinismo, ok? Tenho recebido inúmeros recados por email, orkut e twitter sobre as Eleições 2010. Antes de tudo (ou mais nada), considero interessante a participação do pessoal no ciberespaço, através da indicação de candidatos de sua confiança. Isso é democracia! (ou, pelo menos, parte dela) No entanto, o que me deixa… o que me deixa… o que me deixa boquiaberto é a enxurrada de mensagens sem pé nem cabeça sobre algo que foi dito por um ex-bruxo ou determinado líder religioso acerca do futuro de nossa politica tupiniquim. Confuso? A menos que você tenha passado os últimos dias (sem o sentido escatológico, necessariamente) em Marte, sabe muito bem do que estou falando. Há uma verdadeira satanização midiático-fundamentalista ao partido dos trabalhadores, o PT.

Recapitulando… Tudo começou com um vídeo do pastor Piragine claramente contra o PT, bombando na net. Depois, foi a vez de relembrarmos da denúncia de Daniel Mastral, um ex-bruxo, sobre a possível associação de Michel Temer (vice da Dilma, candidata à presidência pelo PT) ao satanismo… Pra piorar a conspiração e deixá-la com cara de estórias-de-terror-ao-redor-da-fogueira, a Dilma já está quase morta, em decorrência de seu diagnóstico de câncer. Daí, em caso de morte do presidente, é o vice quem assume. Ele mesmo! O Temer. Elementar, meu caro Watson! Poderíamos discutir o passado “guerrilheiro” da candidata do Lula, embora o Serra também tenha participado da luta armada. Mas, cada um faz a leitura de guerrilheir@ como quer: mocinh@ ou bandid@, na Ditadura Militar. Também poderíamos discutir se o Temer tem pacto ou não com o demo… Enfim, não falarei sobre os Illuminates, loura do banheiro, mula sem cabeça… Não! O propósito deste post é dizer o que penso de toda essa satanização do PT.

Pensei em deixar pra lá... Ficar militando por essas coisas cansa... Sei do risco que corro de ouvir/ler que estou sendo o "do contra", o "apóstata", o "polêmico", o "liberal", “o que brinca com coisa séria”... Vamos lá! Sou cristão, evangélico, batista (mesma denominação do Piragine), calvinista, flamenguista, sempre Embaixador do Rei (uhul!)… Enfim, moçada, falo com amor e, nas palavras de Gramsci, me posiciono como um intelectual orgânico (um papo sobre evangélicos por quem é evangélico).

Creio que a razão pode caminhar de mãos dadas com a fé, numa boa! Às vezes, me sinto como se estivesse nos anos 60/70, quando a parte conservadora da igreja dizia que os comunistas eram comedores de criancinha (um terrorismo de discurso que beirava o ridículo). Lembro de uma época que nos preocupávamos em descobrir mensagens subliminares nos discos de vinil... Pelo menos, era divertido! Pra quem não sabe, a Aliança de Batistas do Brasil resolveu se manifestar a respeito da "iniquidade institucionalizada" combatida pelo Piragine... Acho que nunca tive tanto orgulho por ser batista! =)

http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=272

Outro artigo muito bom é do José Barboza Junior (Crer e pensar), outro batista que me orgulha... Leitura recomendadíssima!!!

http://www.crerepensar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=192&Itemid=26

Não busco demonizar o Piragine... Longe disso! De certa forma, acho que o ocorrido até "contribui" para que retiremos nosso olhar pulpitocêntrico (infalibilidade papal é catolicismo medieval...) e enxerguemos o evangelho sem uso do pânico (beirando o fundamentalismo). Pois bem! Eu apresento a vocês um contraponto. Destaco que não conheço pessoalmente o Piragine, mas acredito que seja um homem de Deus. Apenas acho que viajou na batatinha... E como! Pior do que isso: o vídeo foi aplaudido por muitos crentes (talvez, pior ainda, foi assistido por não evangélicos...). #vergonhaalheia

Quanto à discussão das uniões homoafetivas, infelizmente, mais uma vez, a IGREJA não soube se posicionar. No lugar de colocar em prática o discurso "Jesus ama o pecador", a chamada bancada evangélica e alguns telepastores preferiram ficar gritando (inclusive em alguns programas de TV não-evangélicos) contra os homossexuais. Dessa forma, é muito óbvio ser perseguido e bancar o mártir, não acham? (o que deve virar um círculo vicioso, pois ser perseguido, para eles, deve ser "sinal" de estar no caminho certo). Deveríamos ganhar os homossexuais pelo amor (o que não exclui o "vai e não peques mais"), no lugar desse pânico todo. De um lado, os gays nos odeiam e nós os afastamos da Igreja... Tá, Alexandre! Mas se o Michel Temer for mesmo um satanista? E se a PLC122/2006 for aprovada? Eu só sei de uma coisa, caros leitores:

Que sejamos sal e luz! E que amemos os homossexuais! O que realmente nos amedronta? Antes de responder, deixe-me declarar o seguinte: Que Deus nos livre de um Estado xiita-evangélico! #prontofalei

E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. (Efésios 5:2)

Com amor,

Alexandre: um jovem que votará em Marina Silva, mas não faz terrorismo contra o PT. Para isso, existe a Regina Duarte... :P


sábado, 18 de setembro de 2010

Tempo que foge!



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.


Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.


Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.


Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. Não gosto de assembléias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.


Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.


Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: - Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.


Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.


Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

Soli Deo Gloria


Ricardo Gondim